domingo, 10 de maio de 2015

Tripé Econômico - Dilemas advindos com o Plano Real II

A partir de uma conjuntura de transações correntes altamente deficitárias e baixas reservas internacionais é que surgiu uma política até hoje vigente, o chamado Tripé Econômico.

Como foi visto, a âncora cambial foi a principal ferramenta de controle da inflação no primeiro mandato de FHC. Contudo, ela trouxe um desequilíbrio externo crescente e uma séria crise fiscal. A sobrevalorização do real percorreu todo o primeiro mandato de FHC. Conforme Giambiagi (2011), partindo de um nível 100 em junho de 1994, a moeda tinha diminuído para 68 no auge da apreciação em julho de 1996 e mesmo com algumas microdesvalorizações, o referido índice ainda era de apenas 79 ao final de 1998.


Para que o país se sustentasse, era preciso que os investidores externos mantivessem a confiança na economia e na moeda, aportando recursos de investimentos ou empréstimos para o país. Contudo, em cenários de alto desequilíbrio nas transações correntes, alto endividamento e poucas reservas internacionais, os investidores tendem a perder a confiança no país, principalmente por preverem uma desvalorização da moeda a partir da “fuga de capitais”, resultando em uma profecia auto-realizável.


A partir daí surgia, então, o tripé da política econômica, com câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação. Para Giambiagi (2011) as sucessivas crises econômicas e políticas vividas pelo Brasil até 1998, como a crise Jânio/Jango de 1961-1963, o choque do petróleo, as crises externas, fiscal e inflacionária dos anos 1980 e o ambiente de hiperinflação dos anos 1990, sempre tiveram presente pelo menos um dos seguintes elementos presentes: alta inflação, crise externa e/ou descontrole fiscal. Com a adoção do tripé econômico o país passa a ter condições de enfrentar cada um desses problemas: “se a inflação preocupa, o Banco Central atua através do instrumento da taxa de juros; se há uma crise de Balanço de Pagamentos, o câmbio se ajusta e melhora a conta corrente; e se a dívida cresce, há que se “calibrar” o superávit primário.” (GIAMBIAGI, 2011, p188)


O problema da política do Tripé Econômico é que as variáveis são interdependentes e uma medida para “consertar” eventual problema em uma variável pode “estragar” a outra variável. Assim, o quadro abaixo explica sucintamente possíveis consequências de medidas adotadas:

Problema
Medida
Resultado indesejável 1
Resultado indesejável 2
Aumento Inflação
Aumento dos Juros
Grande afluxo de capital externo, com valorização cambial e aumento do déficit em transações correntes.
Os gastos públicos com o serviço da dívida aumentam, o que gera necessidade de maiores superávits primários.
Aumento do déficit em transações correntes
Desvalorização cambial
Diminui a concorrência de produtos externos o que pode gerar pressões inflacionárias.
Diminui o poder de compra dos trabalhadores, o que pode gerar um quadro recessivo.
Aumento do déficit público
Aumento do superávit primário
O corte de despesas ou aumento de impostos para aumentar o superávit podem ter resultados recessivos na economia. Como o principal indicador de confiança é a relação dívida/PIB, se o PIB não crescer, este indicador aumenta mesmo que o superávit aumente.


To be continue...

Referências: 

GIAMBIAGI, Fábio & ALÉM, Ana Cláudia. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil. 4.ed ver. E atualizada. Rio de Janeiro: Elzevier, 2011.

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