quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Mais ciclistas na Bernardo Monteiro

Hoje tive acesso aos dados do contador de ciclistas da Professor Moraes e os dados são animadores.

Este contador foi instalado em julho de 2016, a fim de verificar quantos ciclistas passam na região. O contador tem boa precisão para identificar bicicletas de variados pesos e dimensões.









Assim, tendo o sistema sido instalado em julho de 2016, já é possível fazer uma pequena comparação dos meses entre julho e novembro. No caso de dezembro, como estamos no início do mês, a comparação ainda não é possível e o número é baixo.

O gráfico abaixo faz essa comparação:
Na cor verde são os dados referentes a 2016 e de azul os dados de 2017. Percebe-se claramente uma boa evolução entre Agosto e Novembro. O maior desempenho em julho de 2016 se deve ao "efeito novidade", quando diversos grupos de ciclistas noturno e o movimento massa crítica fizeram questão de traçarem seus trajetos de forma a passar pelo contador. 

Já a diminuição gradativa observada ao final de ambos os anos, talvez possa ser explicada pelo período chuvoso, comum no final do ano.

A comparação dos números e sua evolução em porcentagem deixam mais clara a consistente evolução do número de ciclistas.
Ou seja, em relação ao mesmo mês do ano anterior, o número de ciclistas em 2017 aumentou 21% em Agosto, 15% em Setembro, 8% em Outubro e 18% em Novembro. Comparando o total desses quatro meses, houve uma evolução de 16%, o que dá um aumento de mais de 40 ciclistas por dia, passando de uma média de 230 ciclistas/dia para 271.

Esse tipo de comparação é importante, pois compara períodos de tempos iguais, podendo levar em conta fatores climáticos que tendem a ser semelhantes naqueles meses.

O interessante é que nesse período não se implementou nenhuma grande política favorável às bicicletas na região. Apenas houve um melhor tratamento da ciclovia na Rio de Janeiro... 

Assim sendo, muitas são as especulações possíveis para esse crescimento, mas eu arriscaria a dizer que as ciclovias são um tipo de obra que tem uma demanda inicialmente reprimida e que evolui de forma gradativa. Não adianta usar o recente argumento do Dória, de que para implementar novas ciclovias, faz-se necessário um estudo de demanda. Ora, esse é um tipo de demanda reprimida, a qual só pode se revelar a partir do momento em que são oferecidas as condições adequadas para a sua fruição. Me lembro do parque da Floriano Peixoto, o qual antes da reforma, de colocarem luzes e oferecerem segurança, andava às moscas... Já nos dias de hoje, possui boa movimentação e pessoas de todas as idades passeando.

Por fim, as pessoas não passam a usar bicicleta a partir do exato momento em que uma ciclovia é instalada, sendo normal que levem um tempo para cogitar a possibilidade de mudança no seu meio de transporte. Geralmente, o primeiro passo é cogitar o uso para lazer. Já para os mais jovens a transição talvez seja um pouco mais fácil...

Dessa forma, é possível especular que a ciclovia esteja ainda a experimentar uma evolução no seu uso, o qual poderia ser potencializado com a interligação à outras redes cicloviárias e ciclorotas da cidade. Na verdade, o novo prefeito Alexandre Kalil firmou compromisso de executar o #Planbici, programa elaborado por ciclistas de Belo Horizonte, o qual dentre outras coisas, prevê 400 Km de ciclovia até 2020. Só que até agora nem cem metros foram feitos... 

Confesso que se cumprir metade da meta já seria motivo de comemoração e faria mais do que todos os outros prefeitos anteriores juntos. Entretanto, por enquanto são só promessas.


quinta-feira, 20 de julho de 2017

Aumento de impostos na Patolândia!

Mais uma da patolândiahttp://www.tijolaco.com.br/blog/a-patopia!

Aliás, nenhum problema com a ideia, que seria muito melhor que os cortes monstruosos no orçamento, o qual ajida a derrubar o PIB, que ajuda a derrbar a arrecadação...

Só que o aumento de impostos que precisamos é sobre heranças e patrimônio, bem como voltar a taxar lucros e dividendos de pessoas jurídicas. Afinal, no Brasil rico não paga imposto.

Mas aí, vale lembrar que os que pagariam tais impostos não são patos, os patos são outros...

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Atropelamento, assassinos e linchamentos. O que fazer?

Tendo em vista o recente ocorrido de um motorista passando por cima de vários skatistas, me suscitou indagações do que realmente pode ter ocorrido e me lembrou a meditação que fiz inicialmente aqui no blog.



Não é aqui minha pretensão apontar o dedo para os erros de cada um ou esclarecer o que realmente pode ter ocorrido. Acompanhei por alto a discussão no facebook e as mudanças de versões conforme novos vídeos foram surgindo (e como sempre a história do G1 também continua mal contada).

Acho realmente muito estranho alguém sair atropelando os outros gratuitamente, ainda que isso seja possível. Também é estranho um skatista sair atirando o skate no carro gratuitamente... Eu arriscaria a dizer que pequenos eventos foram se retroalimentando e aumentando a desconfiança dos envolvidos, talvez o motorista tirou uma fina imprudentemente de um, o outro foi tirar satisfação, até que o motorista foi dominado pelo medo e... bom isso é o que desenvolvo abaixo!

Enfim, espero que a polícia e a justiça façam seu trabalho da melhor maneira possível para esclarecer e punir, caso necessário.

Mas o que quero abordar é que, uma das ideias mais esclarecedoras que já estudei, foi essa lógica hobbesiana. Fundamentalmente ela diz que em ambientes de perigo, de ameaças potenciais, mesmo as pessoas mais honestas do mundo tendem a agir exatamente iguais aos psicopatas (ou qualquer outra coisa que as pessoas imaginam como a encarnação do mal). Isso é a princípio muito desconfortante, mas depois também é esclarecedor e às vezes reconfortante...(se desprender da moral irreal dos moralistas, principalmente os hipócritas como da nossa classe média, pode ser muito saudável).

É claro que existe uma possibilidade de agir diferente que é sacrificar a própria vida em nome da não violência e morrer cheio de "razão". Todavia, até mesmo essa saída, possui o notável inconveniente de ter consequências potencialmente desagradáveis para terceiros, como deixar um assassino matar toda sua família em nome da não violência.

Mas tirando essa notável exceção que geraria muitos outros debates de ética deontológica versus utilitarista, vamos lidar com o caso prático, onde podemos tentar imaginar como a maioria das pessoas reagiria. Melhor ainda, é cada um de nós tentar se imaginar como reagiria nas situações que descrevo:

1- Um motorista psicopata sai atropelando por raiva um monte de ciclistas. Aí a turba tenta cercar o carro, mas o condutor evade do local. Em seguida, você passa no quarteirão ao lado com um carro igual ao do psicopata. A turba te avista e corre para cima do seu carro. Chegam e começam a chutar e bater no carro. Alguns dizem que vão te matar porque você é um psicopata filho da puta. O que você faria nesse caso?

2- Você está um pouco apressado levando seu filho ao Pronto Socorro. Passa por uma multidão de ciclistas que fecham uma rua. Seu filho chora de dor. Você tenta lentamente avançar, sinalizando com buzina e pisca. Algumas pessoas da multidão encaram aquilo como uma afronta, afinal, no mês passado, um condutor embriagado agiu de maneira imprudente e acabou atropelando um companheiro de pedal. Todo mundo também anda revoltado porque a Justiça perdoou um caso semelhante a poucos meses. Com isso, mais e mais gente se indigna com o que encaram como nova ameaça e começam a cercar o carro. Afinal, se aquele carro resolver acelerar, realmente pode ser danoso para muita gente. Talvez, seja prudente impedir que isso aconteça...

Já seu filho fica cada vez mais assustado e começa a gritar e chorar. Você tenta avançar lentamente e cada vez mais pessoas cercam seu carro por medo que você seja imprudente e acelere. Você abre um pouco o vidro e alguém te xinga, ouve algumas ameaças e um chute na traseira. O que fazer?

3-  Você está de carro e está meio perdido sem saber em qual rua virar para chegar na casa de um amigo. Meio em cima da rua, você dá uma freada para convergir, mas um motociclista bate na sua traseira e voa sobre seu capô. Você para o carro e vai socorrer a vítima. Não há dúvidas que a culpa seja do motociclista, pois o de trás deve ter uma condução defensiva. Todavia, enquanto você chama a polícia e o resgate, chegam outros motociclistas. Estes, por sua vez, também andam cansados de verem seus companheiros acidentados. Um começa a te xingar, te chamar de imprudente, de assassino. Você se sente um pouco acuado e volta para o carro. Outro diz que o filho da puta tá tentando fugir sem prestar socorro. Você ouve alguém falando que merece uma surra. O que fazer?

Enfim, os exercícios para situações do tipo são infinitos. Relatei esses três, porque algumas delas vivenciei e presenciei. A grande questão por trás dessas reflexões é que situações potencialmente violentas não necessariamente envolvem pessoas violentas, perturbadas, assassinos em série ou o que quer que seja que as pessoas fantasiam como pessoas do mal. 

A violência pode ser uma reação absolutamente natural, esperada e até desejável por parte de pessoas que se consideram as mais pacíficas do mundo. E nem precisa que do outro lado exista um psicopata, podendo ser um Gandhi de um lado e uma madre Tereza de Calcutá de outro, que ainda assim pode haver uma situação explosiva.

A grande questão é que ninguém sabe se quem está do outro lado é potencialmente perigoso ou não. Se soubéssemos, as coisas seriam um pouco mais fáceis!! E na dúvida, talvez seja mais prudente tomar uma atitude defensiva. E muitas vezes a melhor defesa é o ataque. Então pé na tábua pode ser uma saída aceitável...E também pode ser uma saída aceitável impedir o motorista de prosseguir ou mesmo tirá-lo do carro para evitar que acelere... Pode ocorrer de AMBOS terem RAZÃO!

E de fato, quando as incertezas se avolumam e as desconfianças aumentam, pode-se esperar que o estado hobbesiano vai acabar por aflorar em todos os seres, pacifistas ou não...

E tudo vai se retroalimentando numa escalada explosiva e suicida, podendo ou não haver soluções. Pode um grupo eventualmente se impor, ou as guerras vão se sucedendo ou algum bom senso emerge por parte das forças mais representativas.

Hobbes propunha o Leviatã para ser a grande força a botar "ordem na casa". A questão é complexa e também foge da minha pretensão em enveredar por questões da ciência política. Acredito que o que há de construtivo nisso tudo é realmente imaginarmos se é possível solucionarmos essas questões com:

1- Dando armas para os cidadão de bem? (seja lá como será feita essa peneira) Ou seja, os skatistas e o motorista resolveriam a questão com armas na cintura. O mesmo vale para discussões em boates sobre quem mexeu com sua namorada...

2- Fazendo Justiça com as próprias mãos? Ou seja, cada grupo escolhe o alvo e bota fogo. No caso do inocente pego por engano, provavelmente a ele também seria permitido executar seus algozes. E se também cometesse um engano, outros o executariam e assim sucessivamente. Como todos já devem ter cometido sua dose de pecado e erros, talvez fosse mais sensato todo mundo dar um tiro na cabeça...

Enfim, eu não vejo melhor exemplo, para jogarmos fora qualquer ideia de armar a população ou outras bobagens apregoadas por Bolsonaros da vida (que vale registrar, o "mito" quer todo mundo armado, mas propôs um projeto de Lei para tirar o porte de armas de fiscais do Ibama, pois estes haviam multado ele por pesca ilegal).

Ao fim, a melhor forma de tentar lidar com essas questões são mesmo através do reconhecimento da Justiça como instância capacitada para lidar com a questão.

Todavia, se essa mesma Justiça não fizer por onde para lidar com casos do tipo, seja inocentando recorrentemente pessoas reconhecidamente culpadas, ou tratando diferentemente classes sociais, ou como faz o dito juiz Sérgio Moro, perseguindo à revelia da lei, apenas um partido e seu líder, por motivações e afinidades com outros partidos e punindo com base apenas em convicções, então, teremos mais elementos para potenciais situações explosivas, onde mais pessoas podem se sentir legitimadas a executarem seus próprios julgamentos.

E pode ser que ao fim, a moral e a honra sejam os motores da violência...

 


terça-feira, 13 de junho de 2017

Desvantagens das "vantagens comparativas"


Pensando situações em que a vantagem comparativa possa ser uma “desvantagem”.

Recentemente tive novamente contato com a ideia de vantagens comparativas de David Ricardo. A ideia é muito interessante e foi um grande insight para a época. É claro que muita gente não gostou e nem aplicou, aliás, dizem que alguns dos próceres da independência norte-americana tentaram proibir o livro e nunca aplicaram essas ideias na nação que se tornou a mais rica.

Mas o propósito aqui não é contar história e sim meditar a respeito da ideia genial de David Ricardo e tentar formular contextos em que ela pode ser nociva para o desenvolvimento de uma das partes. Basicamente a ideia das vantagens comparativas afirma que as trocas comerciais são vantajosas mesmo que uma das partes seja mais eficiente em produzir qualquer produto. Abaixo tentarei explicar isso através de exemplos.

Também já vi muitas críticas a respeito, inclusive Raul Prebisch teria observado que os que se especializam em bens primários tenderiam a ter uma degradação dos termos de troca ao longo do tempo. A questão até os dias de hoje parece que continua cheia de controvérsias, com evidências e dados a confirmar uma ou outra posição. 

Todavia, a partir de exemplos que eu mesmo inventei, resolvi pensar numa problematização, dentro da perspectiva que acredito ser mais coerente, a de que ao longo do tempo, quem se especializa em bens não manufaturados "dança".

Tempo 1
Vamos supor que este seja o tempo gasto por João e José para produzir dois bens de consumo. Esta é a produção possível no tempo 1


Tempo necessário em horas


Colher um Kg de abacate Caça de uma paca
João
2
4
José
1
3


Portanto, o preço em abacates para produzir pacas será as horas gastas em pacas divido pelas horas gastas em abacates:



Preço em abacates


Colher um Kg de abacate Caça de uma paca
João
1
2
José
1
3


Isso demonstra que se João resolver caçar uma paca, ele deixa de colher 2 abacates, enquanto José deixa de colher 3 abacates. Dessa forma, se João conseguir dar uma 1 paca  e ganhar em troca mais de 2 abacates, ele terá tido vantagem, pois ele gasta para produzir uma paca o tempo equivalente à produção de 2 abacates, portanto, se obter mais do que isso, ele ganha. Já João, ao produzir 1 paca, ele deixa de colher 3 abacates, então, se conseguir obter 1 paca dando em troca menos de 3 abacates, também terá tido vantagem. Assim, as trocas entre os dois poderiam se dar entre 2 e 3 abacates por 1 paca. 

Ou então, se João colher 1Kg de abacate, ele deixa de caçar 0,5 pacas, enquanto José deixa de caçar um terço de pacas. Assim, se João obtiver 1kg de abacate dando menos de 0,5 pacas, ele ganha. E se José der 1 kg abacate por mais de 0,33 pacas, ele também ganha. Assim, as trocas se darão entre 0,33 e 0,5 pacas por abacate

A ideia é que cada um deve se especializar naquilo que tem vantagem comparativa. Percebe-se que José colhe o dobre de abacate que João em uma hora, enquanto na caça de paca, ele caça apenas 32% a mais de paca do que João. Vamos ver então, como fica se cada um se especializar naquilo que é mais produtivo em termos relativos. Vamos supor uma jornada de 8 horas. 

De negrito, deixei aquilo em que cada um deve se especializar.



Produção em 8 horas


Colher abacate
Caça de paca
João
4
2
José
8
2,66


Sem comércio, se João quisesse consumir 2 Kg de abacate, ele deveria dedicar 4 horas colhendo abacate (2 horas para cada Kg) e restaria ainda mais 4 horas para caçar uma paca. Mas ele caçando 2 pacas em 8 horas, pode chegar para o José e falar:

- Olha José, eu tenho aqui 1 paca, a qual me custou o tempo de produção de 2 abacates. Por sua vez, estou vendo aqui que sua produção de paca tem lhe custado 3 abacates. Ora, o que acha de eu te dar uma paca em troca de 2,5 abacates?

Se a troca se efetuar teríamos o seguinte resultado final



Resultado após as trocas


Kg de abacate
paca
João
2,5 (obtido com a troca)
1 (2-1; diminuído pela troca)
José
5,5 (8-2,5 diminuído pela troca)
1 (obtido com a troca)


Neste caso, José produziria 8 Kg de abacate, enquanto João produziria 2 pacas. 

Percebam que caso João queira consumir esses resultados encontrados (2,5Kg de abacate e 1 paca), ele deveria se dedicar 5h (2h por abacate x 2,5 abacates) para obter 2,5Kg de abacate e 4h para obter 1 paca. Assim, a jornada dele seria 1h maior. Com a troca ele conseguiu 1 hora a mais de lazer.

Agora caso José quisesse consumir 5,5 Kg de abacate e 1 paca, trabalhando por conta própria, ele gastaria 5h:30 min. para produzir 5,5 Kg de abacate e 3 horas para produzir 1 paca. A soma de horas gastas também seria de 8h:30 min. Assim, ele economizou 30 min. de trabalho....

TODO MUNDO SAIU GANHANDO! E João ainda economizou mais tempo de trabalho!!!

Tempo 2

Todavia, vamos supor que o processo de produção de abacate seja um tipo de atividade com ganhos ao longo do tempo. O ato de produzir abacates, de estar junto à natureza, de mexer com a terra, colher, etc... representa ao longo do tempo um ganho de produtividade. As pessoas que se dedicam a produzir abacate vão ganhando experiência, pois é uma atividade bucólica, mais criativa, não enfadonha, sujeita à descoberta de novos processos e de técnicas melhores advindas da experiência. Ademais, esse ganho de experiência, maior bem estar e novas técnicas, permitem ganho de produtividade até na produção de pacas, caso assim queira. Isso se explica pois a inventividade advinda da produção de abacates também serve à produção de pacas. Ao fim de um ano se dedicando à esse tipo de produção, vamos supor que os indivíduos consigam dobrar sua produtividade. Mas como apenas José se especializou na produção de pacas, assim teríamos a nova configuração:



Tempo necessário em horas


Colher um Kg de abacate Caça de uma paca
João
2
4
José
0,5
1,5


E as outras tabelas ficariam assim:



Preço em abacates


Colher um Kg de abacate Caça de uma paca
João
1
2
José
1
3

De negrito, a produção sobre a qual cada um se especializou:



Produção em 8 horas


Colher abacate
Caça de paca
João
4
2
José
16
5,33




Resultado após as trocas


Kg de abacate
paca
João
2,5 (obtido com a troca)
1 (2-1; diminuído pela troca)
José
13,5 (16-2,5 diminuído pela troca)
1 (obtido com a troca)


Olha que interessante, as trocas continuam sendo vantajosas para ambos. Percebam que caso João quisesse continuar consumindo esses resultados encontrados (2,5Kg de abacate e 1 paca), ele deveria dedicar 5h (2h por abacate x 2,5 abacates) para obter 2,5Kg de abacate e 4h para obter 1 paca. Assim, a jornada dele seria 1h maior. Com a troca ele continua tendo 1 hora a mais de lazer.

Já José continua se especializando na produção de abacates. Para produzir 13,5 abacates, ele gastaria 6,75 horas; por sua vez, para produzir uma paca, ele gastaria 1,5 horas. A soma de ambos agora é 8,25 horas ou mais precisamente 8h:15 min. Com a troca ele ganhou 15 minutos de lazer!!

Vejam que agora a troca permite a João economizar 1 hora de serviço, enquanto José economiza 15 minutos.

Tempo 3: 
 
Vamos agora supor que ao longo dos anos, o ato de se especializar em pacas acaba por diminuir a produtividade das pessoas. Produzir pacas é estressante, existe o risco do carrapato da paca deixar a pessoa enferma por vários dias, a fadiga deixa a pessoa menos disposta, a paca causa corrosão do solo, o que prejudica até a produção de abacate etc... Enfim, diminui o tempo útil de trabalho da pessoa e não há ganho com a experiência. Vamos então supor que ao fim desse processo, o infeliz acaba diminuindo sua produtividade dos dois produtos pela metade. Como ficariam as tabelas?



Tempo necessário em horas


Colher um Kg de abacate Caça de uma paca
João
4
8
José
0,5
1,5




Preço em abacates


Colher um Kg de abacate Caça de uma paca
João
1
2
José
1
3

De negrito, a produção sobre a qual cada um se especializou



Produção em 8 horas


Colher abacate
Caça de paca
João
2
1
José
16
5,33




Resultado após as trocas


Kg de abacate
paca
João
2,5 (obtido com a troca)
0 (1-1; diminuído pela troca)
José
13,5 (16-2,5 diminuído pela troca)
1 (obtido com a troca)


Olha que interessante, as trocas continuam sendo vantajosas para ambos. Caso João quisesse produzir 2,5Kg de abacate, ele gastaria agora 10 horas (4h/abacate x 2,5 abacate). Mas como ele continua sendo relativamente mais produtivo na produção de pacas, eles gasta “apenas” 8 horas para produzir pacas e troca essa única paca por um 2,5kg de abacate, os quais lhes custariam 10 horas.

Já José continua se especializando na produção de abacates. Para produzir 13,5 abacates, ele gastaria 6,75 horas; por sua vez, para produzir uma paca, ele gastaria 1,5 horas. A soma de ambos continua sendo 8,25 horas ou mais precisamente 8h:15 min. Com a troca ele ganhou 15 minutos de lazer!!

Vejam que agora a troca permite a João economizar 2 horas de serviço, enquanto José continua economizando 15 minutos.

Comparando os períodos

O mais legal é que durante os três tempos tivemos a seguinte evolução de tempo economizado:

João
José
Tempo 1
1 hora
30 minutos
Tempo 2
1 hora
15 minutos
Tempo 3
2 horas
15 minutos


Mas que estranho! Como é possível que João esteja economizando mais tempo, se João diminuiu sua produtividade e José aumentou?

Na verdade, essas comparações foram feitas sob “desejos” de consumir diferentes. Mas ao longo do tempo, José foi aumentando seu consumo de abacates, enquanto João diminuiu o seu de paca. O bem estar de José aumentou, pois consome muito mais abacate, enquanto João diminuiu suas calorias consumidas.

Se quisermos visualizar o tempo necessário para cada um produzir o padrão inicial, os resultados seriam outros. Ou seja, para João consumir 2,5 Kg de abacate e 1 paca, o que lhe satisfaz, ele gastaria quantas horas em cada tempo? E para José consumir 5,5Kg de abacate e 1 paca, que também lhe satisfaz, quantas horas levaria em cada tempo. Então, se mantivéssemos o padrão de consumo do tempo 1, assim seria o tempo gasto por cada um, sem realizar as trocas.


João (2,5Kg + 1 paca)
José (5,5Kg + 1 paca)
Tempo 1
9 horas
8h:30 minutos
Tempo 2
9 horas
4h:15 minutos
Tempo 3
10 horas
4h:15 minutos


Ou seja, José aumentou seu tempo de lazer, enquanto João diminuiu...

Conclusão

Esse exercício de ficção deixou claro que em cada tempo, as trocas foram vantajosas para ambos os indivíduos, confirmando a ideia inicial de David Ricardo, fazendo com que cada um melhorasse o seu bem estar se especializando naquilo que tinha vantagem comparativa.

Todavia, vê-se também, que a troca é vantajosa apenas no tempo estático, sendo DESVANTAJOSA ao longo do tempo. Aquele indivíduo que se especializou em bens de consumo de baixa agregação tecnológica, de produção estafante, pouco criativa, sujeita à intempéries e doenças, teve sua produtividade estagnada por um tempo e depois até decresceu. Para este caso, poderíamos trocar pacas por serviços em geral no meio agrícola, principalmente aqueles com baixa mediação tecnológica, como corte de cana e colher castanhas. Extração de minérios e petróleo também sem mediação tecnológica entrariam nesse item, com o agravante de serem finitos e deixarem um passivo ambiental com sérias consequências na produtividade e no bem estar.

Já a produção que envolve atividades estimulantes, com aprendizado constantes, com avanços tecnológicos, permitem atingir o que se chama ganhos de escala e disseminação daqueles ganhos forward e backward das cadeias produtivas. No lugar de abacate, poderíamos colocar os microchips, energias atômicas, internet das coisas, aviões, etc... Enfim, tudo aquilo que está na fronteira tecnológica.

Na verdade, alguns estudos afirmam que não basta apenas se especializar em conteúdos de alta tecnologia, mas que as economias mais desenvolvidas, além de procurarem estar à frente do que há de mais avançado na produção tecnológica, também procuram diversificar sua produção. Dessa forma, seria como se produzir abacates e pacas, trouxesse um ganho de produtividade maior ao longo do tempo, do que simplesmente se especializar só no abacate.

sábado, 6 de maio de 2017

Protesto de "vagabundo" é aquele que fecha o trânsito em dia de semana!

Ando totalmente sem tempo de escrever aqui no blog, mas não poderia deixar de registrar um "caloroso" debate com dois "coxas", que quiseram defender que quem manifesta em dia de semana é tudo vagabundo. Acredito que os print screen falem por si.

Tudo começou com aquela história de "coxas" chamando de vagabundos uma foto antiga de manifestação pelo Impeachment, o qual acreditavam ser manifestação da Greve Geral de 28 de abril de 2017.


Em seguida, veio um querendo justificar que os "verde-amarelo" só se manifestavam em fim de semana, pois se preocupavam com o trânsito.


Achando que a coisa iria parar por aí, eis que aparece outro a defender que manifestação em dia de semana só é de vagabundo se for antes das 20h...


A foto que mandei foi essa, onde se vê que a Paulista já estava fechada desde às 19h 12, confira aqui:
Mas o cara não desiste e insiste no argumento. Inclusive, me manda um link (que não consegui fazer print screen), para tentar provar que a Paulista só foi fechada depois das 20h. Mas no mesmo link, logo abaixo do vídeo, a reportagem reafirma o que eu vinha falando, que a Paulista já tinha concentração desde 18:15 e fechavam desde 19h...


A matéria:




Eis que se convence que se fechar uma pista antes das 20h pode e não é considerado vagabundo (?!?!)


Por fim, o cara afirma que só é vagabundo se for dia de semana e sob o sol...

E depois do último comentário acima e de postar esse link, com reportagem de manifestação sob o sol, o cara desiste e apaga tudo...

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Curva de oferta e salário mínimo

Em qualquer curso de economia sempre é apresentada a famosa curva de oferta e demanda, que também vale para contratação de mão de obra. Eis como as curvas são apresentadas por Mankiw em seu livro Introdução à Economia:

No primeiro caso, o sacrossanto mercado cuida de deixar tudo equilibradinho, ou seja, o melhor dos mundos, pois não há desemprego e todo mundo recebe pelo preço "justo". E caso o "populista" governo queira implantar um salário mínimo, ele simplesmente estará distorcendo a perfeição dos mercados e causando desemprego. 

O segundo gráfico demonstra a distorção, pois com um salário mínimo mais elevado, a demanda por mão de obra (curva inclinada para baixo) ficará em uma patamar aquém da curva de oferta (curva ascendente), ocasionando o desemprego. 

E porquê a curva de oferta de trabalho é ascendente? Hora parte-se da premissa de que quanto maior o salário mais pessoas estarão dispostas a trabalhar e por mais tempo...

Bom, particularmente, confesso que nunca gostei muito dessas explicações, principalmente das premissas envolvidas. É possível que esse incômodo venha do mundo real, onde em quase toda parte exista a política de salário mínimo. Também sempre desconfiei das premissas. Todavia, por ser algo SEMPRE ensinado, também achava que as curvas de oferta e demanda eram algo superado, provado e constatado, não sendo passível de muitos questionamentos.

Pois bem, avançando nas minhas leituras, tenho constatado diversos questionamentos bem embasados, os quais também parecem muito mais adequados ao mundo real. Atkinson (2007) é um a problematizar algumas dessas premissas, argumentando que a curva de oferta de trabalho não é necessariamente retilínea, para cima, como normalmente se ensina nos livros de Introdução à Economia. Ele prevê a possibilidade da existência do seguinte tipo de curva de oferta.

Algumas suposições para este tipo de curva de oferta são assim resumidas pelo autor.

"Com salários baixos, as pessoas continuam trabalhando porque precisam muito do dinheiro. Mas, conforme o salário aumenta, elas conseguem melhorar a condição de vida e decidem que podem parar de trabalhar para ficar em casa com os netos. Assim, a curva da oferta de trabalho faz um desvio para trás. Porém, em certo ponto, o salário oferecido torna-se tão atrativo que as pessoas ficam tentadas a permanecer no trabalho, de modo que a curva retoma sua inclinação para cima. O ponto crucial é que pode haver mais de uma interseção entre as curvas de oferta e demanda. Existe mais de um salário que equilibra a oferta e a demanda. Isso evidencia um ponto que muitas vezes é negligenciado: pode haver mais de uma solução de mercado." (Atkinson, 2007, p. 300)

Dessa forma, os pontos A, B e C são possíveis soluções de mercado. Assim, se o salário mínimo estiver abaixo de A não haverá aumento do desemprego. O interessante é que se observarmos o histórico dos próprios países desenvolvidos, as evidências empíricas demonstram que a quantidade de horas de trabalho ofertadas por seus trabalhadores é bem menor do que nos países mais pobres, ainda que o salário oferecido seja muito maior. Nesse sentido, com salários mais satisfatórios, os trabalhadores dos países ricos se permitem trabalhar um número menor de horas ou entrar mais tarde no mercado de trabalho. E isso não soa razoável e até intuitivo? Ou as pessoas buscam trabalhar até morrer só para ganharem salários estratosféricos? Sabemos que existem essas pessoas, mas qualquer passagem por clubes, locais de descanso como retiros, pousadas, viagens internacionais, etc... percebe-se que a nata da sociedade gosta bem de curtir seu tempo de descanso/lazer.

Ademais, outro motivo para se aumentar o salário mínimo seria o incentivo que salários mais altos podem dar à própria produtividade. “(...) as empresas podem desejar pagar mais do que o salário reserva. Elas podem querer que seus funcionários sejam produtivos, e um salário mais alto pode ajuda-las a atingir esse objetivo.” (BLACHARD, 2007, p. 112). Ademais, o pagamento de maiores salários pode funcionar como um dispositivo para desencorajar os trabalhadores a largarem o emprego e, assim, evitar custos de recrutamento para o empregador. (ATKINSON, 2007). 

Eu ainda diria que a curva de oferta é vertical no seu início, pois a maioria das pessoas TÊM que trabalhar, independente da remuneração, mas aí já é outra história.

Bibliografia:

ATKINSON, Anthony B. Desigualdade: o que pode ser feito?. Tradução: Elisa Câmara – São Paulo: LeYa, 2015.

BLANCHARD, O. Macroenomia. Tradução: Cláudia Martins, Mônica Rosemberg. 4ª. Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. 5ª. Ed. São Paulo, Cengage Learning, 2009.