segunda-feira, 28 de maio de 2018

Prêmio Patetada de Ouro - Categoria Projetos Liberais para Apagão dos Serviços Públicos

Galera, o prêmio Ig Nobel, o qual laureia obras científicas que nos fazem rir, resolveu este ano instituir uma premiação exclusiva para o Brasil.

Estará em votação a partir de hoje o Prêmio Patetada de Ouro do século XXI- categoria Projetos Liberais para Apagão dos Serviços Públicos.

Vejam os concorrentes:

a) Pedro Parente com seu Apagão Energético em 2001, no país com a maior matriz energética hidráulica do mundo;

b) Geraldo Alckmin com seu Apagão hídrico em 2014, depois de colocar a SABESP no mercado de ações e nunca mais investir em novas obras, só se preocupando em distribuir dividendos;

c) Pedro Parente com seu Apagão do Abastecimento em 2018, colapsando o país, a fim de manter uma política de preço do combustível lastrado no mercado internacional, a favorecer apenas acionistas e exportadores de derivados dos EUA.

Não deixem de votar!

São todos notáveis magos do liberalismo, com soluções tecnocratas e de livre-mercado para monopólios naturais e serviços de natureza essencialmente pública.

Antes de colapsarem com o Brasil, colapsaram com o PT?

Que o país colapsou já podemos constatar. Que a corja Temer/tucanos/Pedro Parente perdeu qualquer condição de governar é outro fato. Mas o que mais me entristece é começar a constatar que as forças políticas que talvez poderiam apontar uma saída, principalmente o PT, estão na lona, talvez entraram em colapso antes, bem antes.
 
Os propósitos desse texto não é fazer chorumela de que o PT se distanciou das bases, perdeu o vínculo popular, ficou preso aos gabinetes ou outros discursos a reivindicar auto imolações ou à volta de um purismo perdido em um tempo e espaço distantes. Deixo claro antes de tudo, que considero que o PT não perdeu nada disso e continuo considerando como o melhor partido e o mais enraizado nas camadas populares, bem como o que foi apto a realizar as mudanças sociais mais profundas que este país já vivenciou. O que me causa extrema angústia e perplexidade é constatar que o golpe foi cirúrgico, que conseguiu atingir o objetivo de colapsar o comando partidário e suas lideranças.
 
Em um texto de Pritchett de 2009 (The problem with Paper Tigers: Development Lessons from the Financial Crisis of 2008) sobre a crise bancária de um ano antes, o autor se indaga como aquela crise foi possível se iniciar no país mais rico do mundo, onde ele considera existir as instituições mais fortalecidas e organizadas do planeta. A tese dele é que a capacidade de as instituições lidarem com problemas não são lineares podendo ruir caso apareçam pressões e situações não previstas. O autor destaca que o que demora décadas para construir pode ser destruído rapidamente, o que acredita ter acontecido nos eventos de 2008.
 
E para ilustrar os tipos de organização existentes, faz uso de três metáforas. Em primeiro lugar existiriam as organizações dos Keystone cops, uma metáfora dos seriados antigos do cinema mudo, onde um tanto de policiais incompetentes cometiam todo tipo de bobagens no exercício de suas atividades profissionais. Neste caso, de nada adiantava a disposição de recursos, pois a limitação do corpo organizacional se devia à baixa competência individual dos seus membros.
 
O segundo tipo são os chamados tigres de papel, onde os problemas podem não ter nada a ver com limitações intelectuais dos indivíduos, muito pelo contrário. Estas organizações seriam aquelas onde seus membros são altamente capacitados, treinados, com elevadíssimo conhecimento técnico, mas que na hora de executarem as ações costumam ter um desempenho pífio. Isso pode ocorrer por dois motivos principais e correlacionados. O primeiro é a baixa motivação, envolvimento, interesse e comprometimento para com o serviço, onde os profissionais, por motivos diversos, não se sentem parte ou interessados em desenvolver o trabalho. O segundo motivo é quando os profissionais até realizam o serviço, mas desde que sob certas condições, deixando a organização entrar em colapso, caso apareçam situações estressantes.
 
Por fim, o terceiro tipo de metáfora seria o da organização espartana, onde seus membros são altamente dedicados e com sentimentos internalizados de fazer o melhor possível. Neste caso, não existe grande distância entre o aprendizado teórico e o prático, já que as pessoas e o ambiente institucional permitem que suas capacidades sejam exploradas ao máximo. Para o autor, esse é o tipo de organização ideal.
 
Dessa forma, parece que essas metáforas ajudam a elucidar um pouco o que aconteceu com o PT. É possível dizer que no partido, como na maioria das organizações, havia uma mistura desses três tipos de organizações, mas com predominância dos espartanos. Assim, o primeiro golpe se inicia com o mensalão de 2006, atingindo uma a uma as figuras partidárias que coordenavam e lideravam o partido, suas lideranças espartanas, aquelas que davam fibra e se entregavam de corpo e alma aos objetivos partidários. Claro que também eram portadores de um saber técnico, mas o que dava sustento ao trabalho era a convicção e alta relação entre teoria e prática. Os dois retratos perfeitos dessa metáfora seriam José Genoíno e José Dirceu.
 
Como o líder máximo ficou preservado, o qual também se encaixa na categoria anterior, o partido logrou caminhar e até conseguir ainda novos e maiores avanços para o Brasil. Entretanto, devido às baixas do primeiro golpe, foi obrigado a se cercar de figuras mais associadas à metáfora do Tigre de Papel. Vamos reler essa definição e tentar associar alguns nomes: a) “As organizações tigres de papel seriam aquelas onde seus membros são altamente capacitados, treinados, com elevadíssimo conhecimento técnico, mas que na hora de executarem as ações costumam ter um desempenho pífio” (José Eduardo Cardoso e Mercadante?). b) “os profissionais, por motivos diversos, não se sentem parte ou interessados em desenvolver o trabalho (Delcidio do Amaral e Palocci?). c)“os profissionais até realizam o serviço, mas desde que sob certas condições, deixando a organização entrar em colapso, caso apareçam situações estressantes (Dilma, Fernando Haddad e Gleisi Hoffman?).
 
Ressalto que tenho enorme e profunda admiração pela maioria dos nomes acima, especialmente o do Fernando Haddad, mas onde todos eles em alguma medida tiveram dificuldade em lidar com a crise de junho de 2013. É possível ainda que o nível de stress tenha sido tão grande, e de fato o foi, que qualquer um outro teria dificuldade de segurar o rojão.
 
Mas o resultado prático foi que os golpistas, ao invés de continuarem o trabalho de snippers, abatendo as lideranças do partido, conseguiram naquele fatídico episódio, colocar a organização sob stress, a fim de alvejar sua legitimação política frente à sociedade. Ou seja, lideranças não foram perdidas, mas a capacidade de se sustentar e se legitimar junto à sociedade foi quase mortalmente atingida.
 
Como consequência houve a necessidade de se cercar ainda mais de “tigres de papel” e até de “keystones cops”. Na verdade, para ser mais justo e preciso com as metáforas, é importante inserir o José Eduardo Cardoso na categoria dos policiais trapalhões. Afinal, o homem deve ser um caso único na história universal de suprema incompetência. Basta lembrar que sob as barbas do ministro da justiça, policiais federais praticavam barbaridades tranquilamente, como praticar tiro ao alvo com a foto da Dilma ou manifestantes fazendo baderna na porta do seu apartamento.
 
Ainda assim, aos trancos e barrancos o PT conseguiu ganhar as eleições de 2014. Mas acredito que algumas estranhas decisões do período já eram sintomáticas da perda de capacidade operacional da organização para os desafios de então. Afinal, como explicar o fato do partido não ter apresentado o Lula como candidato já em 2014? Como explicar o fato de terem demorado mais de um ano para incorporar o Lula como ministro do cambaleante governo Dilma? Como explicar a manutenção do inoperante José Eduardo Cardoso por tanto tempo?
 
Já ouvi muitas respostas razoáveis para essas indagações, inclusive, de que haveria por parte de alguns “keystones caps” e “tigres de papel” a ilusão de que a Dilma sairia por cima de toda a crise como a incorruptível, mesmo que com Lula jogado aos leões. Mas qualquer que seja a explicação, certo é que a organização perdeu a capacidade de pensar e se articular para a resistência, não usando nem mesmo das principais ferramentas disponíveis quando ainda possuíam a presidência, para preservar seu principal ativo, o Lula. Até acredito que mesmo com outras estratégias, com Lula candidato em 2014 ou ministro da Dilma já em 2015, os desafios seriam enormes e poderiam também fracassar, mas é crível supor que haveria maior capacidade de resistência.
 
De toda forma, com a complacência do Ministro da Justiça e até da cúpula partidária, assistiu-se ao terceiro e último golpe, que se deu com o avanço da Lava-Jato. A falta de uma estratégia de enfrentamento a essa operação era tão visível, que essa linha de frente do golpe chegou a ter apoio entre petistas de até 80% a 90% de seus simpatizantes. Afinal, era vendida como uma operação de combate à corrupção, e por não ter contraponto, bem como com o apoio de todo aparato midiático existente, nadaram de braçada.
 
A consequência foi que a organização sob stress em diferentes frentes, do Impeachment à diversas operações policiais a prender a cúpula partidária e com perseguição ao Lula, perdeu qualquer capacidade de coordenação. Por isso que defendi aqui, a necessidade do PT preservar o seu principal ativo partidário através de um exílio. Em momentos como esse é preciso ter paciência e esperar que o tempo forneça as oportunidades para reorganização e religitimação social. De fora e longe da prisão é possível manter a serenidade para analisar com frieza os fatos e formular estratégias. Ter tempo e elementos para pensar.
 
De dentro da prisão, mesmo a possibilidade de analisar a conjuntura se restringe, sendo quase impraticável tomar decisões e transmiti-las a tempo dentro das necessidades impostas. Talvez, a inoperância observada nesses últimos dias seja resultado dessa falta de agilidade dentro da linha de comando. Afinal, é racional manter o lançamento da candidatura Lula com o país pegando fogo, sofrendo desabastecimento e sem transporte público? Resultado: Atos esvaziados e demonstração de fraqueza.
 
Esperar o desenrolar das coisas, é saber que com o Impeachment o ônus e bônus de governar passaram para o consórcio golpista. Se estes tivessem sucesso, ficaria mais difícil do PT retornar, se fracassassem, novas oportunidades se abririam. E como a corja golpista entrou com a única preocupação de repartir o butim, o fracasso é iminente e vem agora se concretizando com a greve dos caminhoneiros. Estão sem saída porque não possuem projeto de país. E estão num impasse porque precisam manter a entrega aos corsários dos EUA. Rede Globo, STF, toda a cúpula golpista e até o Sérgio Moro já condenaram a continuidade do movimento grevista dos caminhoneiros.
 
Nesse caso, poderia ser uma porta a se abrir para a esquerda, mas ainda não parece ser o caso, pois a esquerda não lidera o movimento, nem parece ter condições para tal nesse momento. As portas parecem mesmo se abrir é para a extrema direita. Pelo andar da carruagem, Janio de Freitas tende a estar certo em sua análise que Bolsonaro e o discurso de intervenção militar irão faturar alto com o episódio. Tempos sombrios se avizinham...
 
Acredito que na atual conjuntura e frente à greve ou locaute dos caminhoneiros, à esquerda caberia o papel de denunciar essa lógica destrutiva do modelo entreguista imposto à Petrobrás, de mostrar à sociedade que reduzir impostos não é solução, mas sim a criação de novos e maiores problemas. Infelizmente, a singularidade que vivemos não está a pedir palavras de ordem unicamente de #LulaLivre. Acho até que parte da solução passa por essa bandeira, mas não pode ser a principal. A esquerda deveria estar reproduzindo os comunicados da FUP e da AEPET, os quais apresentam consistência e esclarecem bem os principais problemas. Acredito que o momento é de apresentar caminhos e soluções para o país.
 
Quanto a apoiar diretamente o movimento grevista (ou locaute), a própria indefinição quanto ao tema já é outro sinal de fragilidade...Alguns acham arriscado apoiar um grupo que ainda não sabemos quem está por trás. Ademais, o timing pode ter passado e a bomba das graves consequências que estão a vir poderia cair no nosso colo. Por outro lado, outros argumentam que o movimento ganhou vida própria e passou por cima de empresários e está a peitar o governo golpista e o stablishment, sendo uma ótima oportunidade para a esquerda capitalizar. Ao final, como conclusão sobram avaliações díspares e nenhuma definição clara.
 
Por último, é impressionante que o PT frente a tamanha debilidade interna, com extrema perda de apoio junto à sociedade (as outras forças políticas também, registre-se), perda de capacidade de articulação e possuindo atualmente uma inacreditável aversão psicótica junto às classe de maior poder aquisitivo e de curso superior, tenha conseguido se convencer que é possível caminhar sem pontes com outros setores, inclusive os de centro-esquerda.
 
É realmente espantoso que o partido que acertadamente realizou todo tipo de coalizão para garantir a governabilidade, apoiando até mesmo Sarney contra Flávio Dino do PC do B no Maranhão, tenha agora lideranças a desdenhar de uma possível aliança com Ciro Gomes. Desdenho esse que contaminou uma parte da militância, a qual passa horas a apontar todas suas baterias contra o cearense do que contra o fascista Bolsonaro. Nesse sentido, acredito que essa última ofensiva da prisão do Lula possa estar trazendo elementos de uma organização “keystones Cops” ao PT, implodindo pontes necessárias que terão que ser reconstruídas em algum momento, nem que seja por questão de sobrevivência física dos seus militantes.
 
Apesar dos pesares e se as eleições vierem a acontecer, ainda acredito e tenho esperança que as exigências da realidade colocarão toda a centro-esquerda unida, talvez até no primeiro turno. O problema é que se essa união vier no segundo turno, pode ser que não venha a acontecer em torno de Ciro Gomes ou o candidato do PT a substituir Lula, pode vir em torno de Marina Silva, Geraldo Alckmin ou Dória, candidatos de direta a disputar com a suprema ignorância conhecida também como Bolsonaro.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Por que Lula será preso?

É claro que o título é uma provocação, pois tirando o Romero Jucá, ninguém é profeta para taxar o que de fato vai acontecer. Aliás, nas ciências humanas, as próprias previsões têm o poder de alterar o rumo dos acontecimentos, o que se configura em um paradoxo. Um exemplo simples, como em Minority Report, seria o caso em que se prever um assassinato, pode levar os envolvidos a impedir que o evento aconteça...

Entretanto, não acredito que palpites sejam simplesmente como jogar uma moeda, pois uma análise das forças políticas envolvidas e os interesses dos principais atores permitem balizar as análises e chegar a especulações mais bem embasadas. Parte-se do pressuposto que os agentes não dão cavalo de pau em seus interesses e apesar de redesenharem estratégias, o fazem com uma racionalidade a permitir que continuem a perseguir o que acreditam serem seus interesses.

Assim, não vou me furtar a arriscar um resultado para o julgamento desse fatídico dia 04. Para fundamentar minha aposta trago abaixo minhas justificativas no melhor estilo xadrez do Luis Nassif.

Causas fundamentais para prender Lula

Bom, acho que vale a pena relembrar que as causas centrais da prisão do Lula não estão em crimes, menos ainda em provas, mas muito mais pelas políticas exitosas que ele representa, as quais vale a pena relembrar de forma resumida: 1) reduziu as desigualdades sociais em um ritmo e um nível nunca antes visto, isso enquanto no resto do mundo a desigualdade vem crescendo; 2) tirou o país do mapa da fome; 3) construiu Universidades e escolas técnicas às centenas, em todo país e com oportunidade para cotistas de escolas públicas e negros poderem ingressar em um ambiente quase exclusivo da elite; 4) Aumentou o salário mínimo consistentemente e acima da inflação; 5) Aumentou o índice formalização do emprego em quase 40%, ao mesmo tempo em que jogou no chão o desemprego; 6) colocou a dívida pública num patamar mínimo ao mesmo tempo em que construiu sólidas reservas internacionais.

E ninguém melhor do que o Jessé de Souza para correlacionar esses fatos com os impactos psíquicos e sociais nas camadas com algum nível de privilégio dentro da sociedade estamental brasileira. A fúria que tomou conta da classe média, nada mais é do que um pânico frente a percepções de mudanças posicionais das camadas sociais. Em resumo, não pioraram de vida, mas viram os debaixo aproximarem, o que lhes causou descontrole.

Pois bem, tudo isso já foi bem formulado por outros autores. Essas transformações propiciaram o caldo de insatisfação, o qual juntamente com um cenário de recessão no governo Dilma trouxe a tempestade perfeita para que os grupos com poder real pudessem usar os manifestoches a seu favor.

A cada dia fica mais claro que entre esses grupos se destacam os interesses americanos, a rede Globo e setores financeiros e empresariais mais atrelados a grupos estrangeiros. Já os empresários médios, corporações profissionais e setores agrícolas parecem ter ido à reboque do caldo formado, cada qual esperando tirar uma casquinha a seu favor, principalmente através do desmonte dos direitos trabalhistas e sociais. Se não bastasse, aqueles empresários que cresceram durantes os governos petistas foram em sua maior parte para a cadeia, levando ainda a Petrobrás, a principal empresa indutora do crescimento do PIB, para o centro da operação dita de combate à corrupção.

Estratégias e interesses para prender Lula

Dessa forma, os interesses dos agentes estão dados e não parece ter sofrido grandes mudanças nos tempos recentes. Vale ressaltar que é possível dizer que alguns desses agentes estão a atacar os próprios interesses de longo prazo, pois acabar com a principal estatal do país e participar de uma politica totalmente entreguista, prejudica os próprios interesses de longo prazo de alguns desses grupos. Mas por ignorância e estreiteza política, cada qual acredita piamente que estão a construir a redenção de seus grupos e que o petismo se constituía em uma ameaça real contra eles, devido aos devaneios de “perigo vermelho”, de bolivarianismo ou coisa que o valha.

Assim, a todos esses grupos, aqueles que o Jucá revelou como o grande acordo nacional, com o supremo, com tudo, interessa acabar de vez com o lulismo e qualquer ameaça de seu retorno, o que envolve tentar matar tanto sua influência simbólica, como a viva!

Percebam que ainda que o PT só falasse para o povo de 2 em 2 anos, durante os 60 dias anteriores às eleições locais e nacionais, o PT tinha se tornado invencível eleitoralmente nas presidenciais. 2014, então, foi o marco dessa constatação, pois foi quando todas as armas foram usadas e ainda assim a direita perdeu... Dali em diante, os golpistas viram que as regras tinham que ser mudadas, para que nunca mais a esquerda voltasse ao poder. O golpe deriva disso...

Entretanto, mesmo com a derrubada de Dilma, a ameaça maior continuava viva fisicamente, politicamente e simbolicamente, mas num patamar muito mais baixo que nos bons tempos. O problema é que a estratégia para derrubar o petismo jogou junto na lama todo o mundo político, o que deixou o Lula com boas condições de se eleger, ainda que com altos níveis de rejeição…
Constrói-se então a condenação e inelegibilidade do Lula...Para diminuir os riscos, propõem ainda a redução do tempo do horário político e um estranho cadastro biométrico, a aparentemente deixar de fora grande contingente do eleitorado lulista.

Por muito tempo, quase todas as pessoas com quem eu conversava, acreditavam que o objetivo era apenas tornar o Lula inelegível, pois apostavam que uma prisão seria muito traumática. Sempre desconfiei dessas análises, pois não acreditava em trauma nem comoção, nem entendia o porque dos golpistas deixarem de fazer o que tinham condições de fazer. Afinal, para que arriscar apenas expulsar o principal atacante se você pode amarelar o time todo, inventar impedimentos e deixar os adversário chutarem a canela?

Em post anterior, com o título “Corra Lula, Corra, discorri sobre o maior trunfo do Lula, que é seu carisma e capacidade de oratória, o qual só pode se manifestar por meio presencial ou audiovisual. Assim, para que deixar um Lula livre indicando um sucessor, se eles podem deixar ele preso e incomunicável??? Por isso, defendi a opção do exílio, pois o golpe se já vinha demonstrando ser demasiado profundo e não valeria a pena entregar o rei por meros caprichos de suposta covardia...

E do ponto de vista dos golpistas, meu entendimento é que a prisão do Lula seria a estratégia mais acertada para quem quer se manter no poder e minimizar os riscos. Um Lula livre, mesmo que condenado, pode indicar mais facilmente seu sucessor e preparar discursos conforme se encaminham as disputas do primeiro e segundo turno…

Por isso que apostei e continuo apostando que o Lula será preso e impossibilitado de participar ativamente das eleições de 2018, não só como candidato, mas também como cabo eleitoral.

Interesses em não prender Lula

Mas nem tudo conta em seu desfavor, pois existem algumas variáveis em favor da não prisão do Lula. Todavia, nenhuma delas diz respeito à letra da Lei, claramente estabelecida na Constituição e inteiramente favorável ao Lula. Vamos acordar que Leis não valem de nada no jogo político atual…
E quais são essas variáveis? Ora, a mais fundamental delas é que a prisão em segunda instância não interessa a alguns dos grupos parceiros do golpe, principalmente seus protagonistas do campo político, como Temer e vários membros do PMDB e em menor medida o próprio PSDB. A guinada do principal representante dos tucanos no STF demonstra a boa fundamentação dessa tese.
Assim, acredito que na votação das ADC”s da prisão em segunda instância, esta possibilidade será revista para o bem da Constituição e dos parceiros do golpe. Carmem Lúcia sabe disso e não é por outro motivo que sentou sobre essa pauta e colocou em votação apenas o Habeas Corpus do Lula, este sim um pouco mais fácil de cair.

Então, para os golpistas, a estratégia que considero mais racional para eles, seria recusar o habeas corpus de Lula. Dessa forma, o maior presidente que esse país já teve ficaria preso para tentar desconstruir mais de sua popularidade e ao mesmo tempo lhe tirar o trunfo de ser cabo eleitoral. Enquanto isso, para “desprazer” dos que defendem que o Lula não deva ter tratamento privilegiado, seu processo teria o “privilégio” da celeridade no STJ, como em todas as instâncias anteriores. Eis que quando condenado em terceira instância, a Carmem Lúcia resolve pautar as ADC dos habeas corpus. Agora com Lula já condenado em terceira instância, decide-se por revogar a culpabilidade em segunda instância. Assim, todos se salvam, especialmente tucanos e medebistas…

Essa seria minha aposta maior, arriscaria três contra um!!

Ainda assim, acredito que outro fator pese em favor do Lula e explique os possíveis votos de Gilmar Mendes e seu novo fiel escudeiro Toffoli. A estratégia anterior de somente Lula na fogueira e todos se salvando depende de um grande acordo nacional, com o supremo, com tudo, mas depende de um “tratado” a garantir que cada parte não “invada” o “espaço” da outra. Geralmente, tratados não se sustentam pela força do bigode e sim pela força das armas…

Assim, o mais curioso desse nosso golpe tupiniquim é que as forças golpistas parecem ainda não terem encontrado um ponto de equilíbrio entre elas mesmas. A artilharia contra o Aécio e o próprio Temer demonstrou o primeiro ponto de desavenças, o qual foi superado pelo fato do grupo de Temer saber usar as ferramentas de poder e através de ameaças recíprocas.

Mais recentemente, Barroso fez nova e estranha movimentação contra Temer… As causas dessas jogadas são de difícil especulação, mas demonstram fortes disputas internas entre os grupos golpistas, as quais podem vir a se acirrar após a condenação de Lula.

A verdade é que um Lula “enfraquecido”, mas ainda livre e a “ameaçar” as elites, parece ser o único elemento de apoio comum entre os golpistas. Por isso, ao retirar ele da jogada, cada grupo terá que armar suas artilharias uns contra os outros, a fim de atirar primeiro ou tentar estabelecer um pacto por igualdade de forças. Contudo, parece que para o Temer não haverá muita saída, podendo ser ele a bola da vez após as eleições e derrotado o lulismo...Nesse caso, parece que um Lula livre poderia ser uma boa estratégia para aqueles que não querem ser a bola da vez…

Ademais, dar poder demais a grupos corporativistas, ao estado policial e ao Judiciário, não parece ser uma estratégia aprazível para os que estão no Executivo e Legislativo. A Ditadura de 64 demonstrou que antigos aliados rapidamente se transformam em inimigos...

Por fim….

Essa era minha última esperança numa vitória da Constituição, mas ainda assim a abraçava com descrença, pois acredito que o interesse de um Lula incomunicável é maior do que a possível tábua de salvação de alguns mdebistas ou tucanos.

Acontece que as últimas movimentações colocaram outras peças no tabuleiro. As diferentes declarações de membros do exército e especialmente do general Villas Boas demonstram que o golpe teve raízes ainda mais profundas e que a participação do exército só não foi de maior protagonismo, porque talvez não houve necessidade. As ameaças foram claras e não me parece muito crível que ministros partícipes ou cúmplices das diversas ilegalidades do Impeachment venham agora a querer peitar ameaças claras de quem tem a posse dos canhões.

Por isso tudo, acredito que a prisão do Lula é inevitável…

Mas espero errar e pagarei a conta na comemoração caso a Constituição seja respeitada nessa quarta dia 04/04/18.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Corra Lula, corra

No atual momento político, certezas sobre os cenários futuros nada mais são do que devaneios, influências de desejos e esperanças que todos alimentamos.

O atual momento é tão dramático que pode ser constatado pela forma como lideranças e intelectuais começam a bater cabeça sobre o que fazer. Lula deve levar sua candidatura até o fim? Deve-se apostar todas as fichas no STF? Como manter o discurso de golpe e ao mesmo tempo reafirmar a confiança nas instituições? Deve-se já lançar um novo candidato pelo PT? Deve-se já fazer uma aliança com Ciro Gomes, Boulos e Manuela? Deve-se radicalizar o discurso e ir para a extrema esquerda? Deve-se tentar reestabelecer as pontes com o centro? O centro e os empresários querem reestabelecer essas pontes?

Quem acompanha os artigos e discussões entre lideranças e intelectuais, percebe que existem pensamentos a justificar cada uma das teses acima. Vale ainda lembrar, que muitos já consideram que as próprias eleições podem estar comprometidas e que podemos realmente adentrar em uma nova era militar.

A coroação do arbítrio deve se dar com a prisão do Lula, mas não tem porque parar aí....Pelo menos nesse quesito, as esperanças vãs estão se desfazendo e cada vez mais gente já se convence que a prisão do Lula é inevitável. Uma dose de realismo é melhor do que fantasias. As visões idealistas e ingênuas de que não iriam ousar ir tão longe, de que teriam medo da comoção gerada, de que só iriam querer tirar ele do páreo, etc... foram se provando teses falsas pela impiedosa realidade. Os golpistas simplesmente foram testando os cenários e como as reações foram murchas, viram que dava para avançar e agora não vão mais perder essa oportunidade.

É claro que ainda tem quem aposte que o STF (aquele que o Jucá se referiu a um grande acordo nacional) irá em algum momento rever a decisão de prisão em segunda instância e salvar Lula do cadafalso. É compreensível que alguns tentem se apegar a esperanças vãs a fim de aplacar o desespero, mas acho que os mais experientes já sabem e enxergam que pelo andar da carruagem a prisão é para este mês, levando ao delírio os globais, os manifestoches e a elite do atraso.

Por isso, é bem possível que o PT e o Lula, agora estejam apenas a calcular quais serão os impactos da prisão. Vai aumentar sua popularidade? Vai causar comoção? Vai conseguir manter a influência para as eleições? No longo prazo, sua prisão vai lhe tornar um novo mártir a infernar a cabeça dos golpistas mesmo depois de morto?

Acredito que para nenhuma dessas questões existam respostas certas. A sua intenção de voto pode tanto subir, como cair. Em relação à última condenação parece que houve leve queda ou estabilidade...Mas infelizmente, acho que no curto prazo não haverá nenhum tipo de comoção, nem o MST, nem o MTST vão conseguir parar o país, os protestos serão pequenos e escassos. Acredito ainda que a transferência de votos será limitada, porém com potencial de levar alguém ao segundo turno.

Só que nem mesmo isso pode acontecer. Pois como transferir votos com alguém preso? Vão ler cartas do Lula no horário político? Isso tem a mesma repercussão que o genial Lula falando, com suas expressões, simpatia, comunicabilidade inata, a qual só é possível por meio visual? E o STF vai deixar lerem eventuais cartas de um condenado? O PT vai gravar ou já está gravando vídeos antes dele ser preso? Vão gravar vídeos em apoio a cada um dos potenciais presidenciáveis e governadores, já que não é possível prever todos os cenários futuros? O STF vai deixar esses vídeos serem transmitidos em horário eleitoral?

Acredito que para todas essas hipóteses, o cenário será o pior possível, com um Lula incomunicável, sem poder fazer campanha, sem poder indicar seu sucessor. E em último caso, se uma improvável comoção começasse a surgir, pode acontecer de o Lula vir a morrer por “morte natural”, o que dentro de uma cadeia é muito mais fácil.

Assim, frente a esse Armagedon que vivemos e somado à fragmentação das candidaturas de esquerda, começo a achar provável que venhamos a ter um Bolsonaro e um Alckmin no segundo turno. Por isso, me convenci que era hora de pensar em uma nova estratégia, principalmente que permita dar sobrevida ao maior líder político que essa país já produziu, o nosso Luis Inácio Lula da Silva. Já erraram uma vez quando vacilaram em apresentar o Lula candidato em 2014. O medo era que ele saísse diminuído com a "confissão" do fracasso da Dilma. Depois veio o segundo erro, que não foi assumir um ministério logo no início do governo Dilma. Mais uma vez, o medo era que essa ação abalasse sua imagem... Assim, para evitar novos erros acredito que se ainda for possível, o nosso Lula deveria correr, correr para sair do país.

Sim, o exílio!! Exílio político para um perseguido da Justiça! Exílio para continuar vivo! Exílio para continuar podendo gravar vídeos e enviando mensagens pela internet ao nosso povo! Exílio para denunciar o golpe na mídia internacional! Exílio para submeter seu caso à corte da ONU! Exílio para se encontrar com líderes internacionais! Exílio para poder indicar seu candidato e fazer campanha no primeiro e segundo turno! Exílio para continuar podendo articular com as lideranças! Exílio para apoiar Boulos, Manuela  ou Ciro Gomes conforme o andar da carruagem! O exílio ainda permitira o PT manter sua estratégia de inscrever o Lula em 15 de Agosto, para os golpistas serem forçado a impugnar sua candidatura ou poderiam ainda já indicar outro candidato.

O problema de se apostar na prisão, é que ela depende de uma série de fatores improváveis e incertos, como uma comoção das massas, um desgaste do Judiciário em níveis alarmantes, um constrangimento dos poderes estabelecidos... Quase uma revolução não? Alguém realmente aposta nisso? Ou não é mais provável o mesmo cenário do Impeachment e das condenações em primeira e segunda instância do Lula? Ou seja, pouca mobilização do nosso lado, apatia geral na população e foguetórios e comemoração entre a coxinhada.

Por fim, se a hipótese da martirização realmente vier a acontecer, pode vir num tempo tão distante, onde costuma gerar resultados práticos bem diferentes dos originalmente propostos. É como o reconhecimento de Jesus pelo Império Romano, quase 400 anos depois de sua morte... ou a consagração de Tiradentes 100 anos depois, ou mesmo a Globo reconhecendo o “erro” de apoiar o golpe militar de 64. Isso serviu para alguma coisa além de tentar dar legitimidade aos mesmos poderes, mas agora com novas máscaras?
 
O mártir costuma ter uma função num curto período de tempo, apenas se seu “gesto” der sobrevida a seus seguidores, como foi o caso de Getúlio Vargas. No caso do Lula, me parece que seu “gesto” apenas servirá para dar mais desânimo à militância, a qual reconhecidamente se encontra cansada, desarticulada, batendo cabeça em acusações mútuas de quem errou e porquê.
 
O exílio nunca foi vergonha para ninguém. João Goulart, Brizola e Luis Carlos Prestes saíram do país... Se tornaram menores por causa disso? Fidel Castro após o fracasso do Moncada e depois de um ano preso, partiu para o exílio no México, para depois voltar vitorioso. Nomes e exemplos não faltam!

No conflito político, os mortos e mártires só conseguem influenciar a ação das massas se houver um grupo consistente a representar aqueles interesses nos anos seguintes, além de uma sintonia intensa e afinada com as massas, o que não parece ser o nosso caso, onde o Lulismo logrou ser muito maior que o petismo, mas parece não ter logrado um nível tão alto a permitir mobilizações.
 
A verdade é que na disputa política, os vivos causam mais medo que os mortos e é exatamente por isso que líderes são assassinados. Quando Pinochet deu o golpe de estado e se cogitava a fuga de Salvador Allende, pode-se hoje ouvir claramente as ordens do ditador para derrubar o avião caso Allende partisse para o exílio... O medo dos vivos é tão grande que a Ditadura chilena não se constrangeu em assassinar Orlando Letelier em plena capital dos EUA...A operação Condor nos ensina isso!

Por isso, acredito que um Lula vivo e podendo exercer aquilo que é sua virtude e vocação, a comunicação com as massas, é nosso maior trunfo frente aos golpistas. Um Lula preso é um Lula morto para deleite dos golpistas. Assim, acredito que o mais inteligente a se fazer agora seria:

Corra Lula, corra!