quinta-feira, 8 de março de 2018

Corra Lula, corra

No atual momento político, certezas sobre os cenários futuros nada mais são do que devaneios, influências de desejos e esperanças que todos alimentamos.

O atual momento é tão dramático que pode ser constatado pela forma como lideranças e intelectuais começam a bater cabeça sobre o que fazer. Lula deve levar sua candidatura até o fim? Deve-se apostar todas as fichas no STF? Como manter o discurso de golpe e ao mesmo tempo reafirmar a confiança nas instituições? Deve-se já lançar um novo candidato pelo PT? Deve-se já fazer uma aliança com Ciro Gomes, Boulos e Manuela? Deve-se radicalizar o discurso e ir para a extrema esquerda? Deve-se tentar reestabelecer as pontes com o centro? O centro e os empresários querem reestabelecer essas pontes?

Quem acompanha os artigos e discussões entre lideranças e intelectuais, percebe que existem pensamentos a justificar cada uma das teses acima. Vale ainda lembrar, que muitos já consideram que as próprias eleições podem estar comprometidas e que podemos realmente adentrar em uma nova era militar.

A coroação do arbítrio deve se dar com a prisão do Lula, mas não tem porque parar aí....Pelo menos nesse quesito, as esperanças vãs estão se desfazendo e cada vez mais gente já se convence que a prisão do Lula é inevitável. Uma dose de realismo é melhor do que fantasias. As visões idealistas e ingênuas de que não iriam ousar ir tão longe, de que teriam medo da comoção gerada, de que só iriam querer tirar ele do páreo, etc... foram se provando teses falsas pela impiedosa realidade. Os golpistas simplesmente foram testando os cenários e como as reações foram murchas, viram que dava para avançar e agora não vão mais perder essa oportunidade.

É claro que ainda tem quem aposte que o STF (aquele que o Jucá se referiu a um grande acordo nacional) irá em algum momento rever a decisão de prisão em segunda instância e salvar Lula do cadafalso. É compreensível que alguns tentem se apegar a esperanças vãs a fim de aplacar o desespero, mas acho que os mais experientes já sabem e enxergam que pelo andar da carruagem a prisão é para este mês, levando ao delírio os globais, os manifestoches e a elite do atraso.

Por isso, é bem possível que o PT e o Lula, agora estejam apenas a calcular quais serão os impactos da prisão. Vai aumentar sua popularidade? Vai causar comoção? Vai conseguir manter a influência para as eleições? No longo prazo, sua prisão vai lhe tornar um novo mártir a infernar a cabeça dos golpistas mesmo depois de morto?

Acredito que para nenhuma dessas questões existam respostas certas. A sua intenção de voto pode tanto subir, como cair. Em relação à última condenação parece que houve leve queda ou estabilidade...Mas infelizmente, acho que no curto prazo não haverá nenhum tipo de comoção, nem o MST, nem o MTST vão conseguir parar o país, os protestos serão pequenos e escassos. Acredito ainda que a transferência de votos será limitada, porém com potencial de levar alguém ao segundo turno.

Só que nem mesmo isso pode acontecer. Pois como transferir votos com alguém preso? Vão ler cartas do Lula no horário político? Isso tem a mesma repercussão que o genial Lula falando, com suas expressões, simpatia, comunicabilidade inata, a qual só é possível por meio visual? E o STF vai deixar lerem eventuais cartas de um condenado? O PT vai gravar ou já está gravando vídeos antes dele ser preso? Vão gravar vídeos em apoio a cada um dos potenciais presidenciáveis e governadores, já que não é possível prever todos os cenários futuros? O STF vai deixar esses vídeos serem transmitidos em horário eleitoral?

Acredito que para todas essas hipóteses, o cenário será o pior possível, com um Lula incomunicável, sem poder fazer campanha, sem poder indicar seu sucessor. E em último caso, se uma improvável comoção começasse a surgir, pode acontecer de o Lula vir a morrer por “morte natural”, o que dentro de uma cadeia é muito mais fácil.

Assim, frente a esse Armagedon que vivemos e somado à fragmentação das candidaturas de esquerda, começo a achar provável que venhamos a ter um Bolsonaro e um Alckmin no segundo turno. Por isso, me convenci que era hora de pensar em uma nova estratégia, principalmente que permita dar sobrevida ao maior líder político que essa país já produziu, o nosso Luis Inácio Lula da Silva. Já erraram uma vez quando vacilaram em apresentar o Lula candidato em 2014. O medo era que ele saísse diminuído com a "confissão" do fracasso da Dilma. Depois veio o segundo erro, que não foi assumir um ministério logo no início do governo Dilma. Mais uma vez, o medo era que essa ação abalasse sua imagem... Assim, para evitar novos erros acredito que se ainda for possível, o nosso Lula deveria correr, correr para sair do país.

Sim, o exílio!! Exílio político para um perseguido da Justiça! Exílio para continuar vivo! Exílio para continuar podendo gravar vídeos e enviando mensagens pela internet ao nosso povo! Exílio para denunciar o golpe na mídia internacional! Exílio para submeter seu caso à corte da ONU! Exílio para se encontrar com líderes internacionais! Exílio para poder indicar seu candidato e fazer campanha no primeiro e segundo turno! Exílio para continuar podendo articular com as lideranças! Exílio para apoiar Boulos, Manuela  ou Ciro Gomes conforme o andar da carruagem! O exílio ainda permitira o PT manter sua estratégia de inscrever o Lula em 15 de Agosto, para os golpistas serem forçado a impugnar sua candidatura ou poderiam ainda já indicar outro candidato.

O problema de se apostar na prisão, é que ela depende de uma série de fatores improváveis e incertos, como uma comoção das massas, um desgaste do Judiciário em níveis alarmantes, um constrangimento dos poderes estabelecidos... Quase uma revolução não? Alguém realmente aposta nisso? Ou não é mais provável o mesmo cenário do Impeachment e das condenações em primeira e segunda instância do Lula? Ou seja, pouca mobilização do nosso lado, apatia geral na população e foguetórios e comemoração entre a coxinhada.

Por fim, se a hipótese da martirização realmente vier a acontecer, pode vir num tempo tão distante, onde costuma gerar resultados práticos bem diferentes dos originalmente propostos. É como o reconhecimento de Jesus pelo Império Romano, quase 400 anos depois de sua morte... ou a consagração de Tiradentes 100 anos depois, ou mesmo a Globo reconhecendo o “erro” de apoiar o golpe militar de 64. Isso serviu para alguma coisa além de tentar dar legitimidade aos mesmos poderes, mas agora com novas máscaras?
 
O mártir costuma ter uma função num curto período de tempo, apenas se seu “gesto” der sobrevida a seus seguidores, como foi o caso de Getúlio Vargas. No caso do Lula, me parece que seu “gesto” apenas servirá para dar mais desânimo à militância, a qual reconhecidamente se encontra cansada, desarticulada, batendo cabeça em acusações mútuas de quem errou e porquê.
 
O exílio nunca foi vergonha para ninguém. João Goulart, Brizola e Luis Carlos Prestes saíram do país... Se tornaram menores por causa disso? Fidel Castro após o fracasso do Moncada e depois de um ano preso, partiu para o exílio no México, para depois voltar vitorioso. Nomes e exemplos não faltam!

No conflito político, os mortos e mártires só conseguem influenciar a ação das massas se houver um grupo consistente a representar aqueles interesses nos anos seguintes, além de uma sintonia intensa e afinada com as massas, o que não parece ser o nosso caso, onde o Lulismo logrou ser muito maior que o petismo, mas parece não ter logrado um nível tão alto a permitir mobilizações.
 
A verdade é que na disputa política, os vivos causam mais medo que os mortos e é exatamente por isso que líderes são assassinados. Quando Pinochet deu o golpe de estado e se cogitava a fuga de Salvador Allende, pode-se hoje ouvir claramente as ordens do ditador para derrubar o avião caso Allende partisse para o exílio... O medo dos vivos é tão grande que a Ditadura chilena não se constrangeu em assassinar Orlando Letelier em plena capital dos EUA...A operação Condor nos ensina isso!

Por isso, acredito que um Lula vivo e podendo exercer aquilo que é sua virtude e vocação, a comunicação com as massas, é nosso maior trunfo frente aos golpistas. Um Lula preso é um Lula morto para deleite dos golpistas. Assim, acredito que o mais inteligente a se fazer agora seria:

Corra Lula, corra!

2 comentários:

  1. Sem dúvida, o Lula exilado, quiça na França, Inglaterra, ou principalmente Canadá ou Suécia lhe daria maiores condições de exercer seu papel de defender uma candidatura que representasse os ideais democráticos, de soberania nacional e de inclusão social, do que encerrado em um cárcere de onde teria de falar por outras vozes, fossem do PT ou de políticos aliados, como Roberto Requião, apenas fico em dúvida se a estratégia surtiria efeito se não alcançasse as amplas massas beneficiadas durante os governos trabalhistas dele, Lula e de Dilma Rousseff, mas creio que seria algo a ser levado em consideração pelos estrategistas do PT e do campo nacional-democrático!

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    1. Sim. Seria bom que refletissem sobre essa possibilidade.

      E dúvidas existem para todas as estratégias, então, não temos como cravar a melhor opção. Mas a única que permite que ele possa continuar decidindo frente ao cenário de incertezas, é aquela em que permanece vivo e solto. A única que permite que permite ganhar tempo e apresentar novas cartadas sob novos cenários é aquela em que ele não esteja na prisão.

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